terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ela sentia-se só, a casa que antes estava vazia agora estava cheia, mas mesmo assim ela ainda sentia-se só.
Andando pela casa - nem nova, nem velha, apenas uma novidade - ela observava cada cômodo, cada móvel e mais uma vez sentiu-se só.
Parada em frente ao espelho ela observava-se, o fazia sempre que desconhecia-se demais, fazia com a certeza que mesmo olhando-se anos após anos não conheceria a si de forma completa, mas mesmo assim ela olhava-se refletida naquele que por muitas vezes fora seu inimigo e por muitas mais seu melhor e único amigo, em frente ao espelho ela notou a falta de expressão em seu rosto, ela não estava triste e muito menos feliz, estrava neutra, mas era um neutro tão neutro que a assustou.
A sombrancelha por fazer, os cabelos despenteados, a roupa de dormir já em seu corpo, não passava das oito horas e ela já estava pronta para dormir ou melhor dizendo, tentar dormir. Um meio sorriso quase apareceu em seus lábios no momento em que ela lembrou das milhares e milhares de vezes que ali, naquele mesmo horário, em frente aquele mesmo espelho, ela se arrumou para ele. A cada dia um estilo diferente, um dia romântica no outro fatal, ao lembrar-se mais uma vez dele o quase sorriso logo desapareceu, dando lugar a expressão neutra do por que...
Por que por tantos meses ela se arrumou para ele? Por que por tantas vezes o melhor sorriso dela foi para ele? Por que por tantos dias ele não ligou e ela mesmo sem esperar, esperou? Por que as diversas baladas que ela foi não fizeram com que o esquecesse ao menos naquele lugar com música alta e pessoas bonitas? Por que, Por que, Por que...
A cada por que que surgia em sua cabeça fazia com que sua expressão ficasse triste, um sorriso forçado a fez acordar dos por que's.
Hoje tudo estava mudado, ela sentia-se como sua casa que mesmo cheia, estava vazia, mas ela ainda vivia. O que faltava para ela era o mesmo que por muito tempo a completou, ele. Ela não o tinha mais tinha apenas lembranças, pouca esperança e muita saudade, apenas. Porém, o concreto, o que a arrepiava e a amparava não estava mais ali, ele havia partido levando consigo todo o amor que ela teve e que o pertencia, ela o fez partir e agora era ela que, sozinha, sentia medo.
Medo do silêncio que antes era preenchido por suas risadas e conversas, medo do vazio que antes transbordava de momentos, medo até de dormir, simplesmente por que ao acordar a certeza de que estaria só era inevitável.
Parada em frente ao espelho, ela se igualou a uma fênix, que renasce das cinzas, hoje ela renasce de suas cinzas, renasce de suas dores, desilusões e saudades. Hoje ela sente-se só, mas renasceu das lágrimas que derramou e como uma legítima fênix ela volta a voar, para novamente sentir-se só e renascer de suas próximas e inevitáveis cinzas.